terça-feira, 17 de março de 2009

Onde estou, onde estarei.

Eu sonho ser maior do que esta que aqui vêem. Tento muitas vezes. Estou sempre quase. Estou irrequieta a raiar as lágrimas, mas acabo sempre por rasgar a folha. Não quero ser mais uma ninfa, mas salto e posiciono-me para que me pintem. E tiram-me a fotografia, mas eu não me reconheço. Então não aguento e escondo-me. Um dia ainda arranco o coração a ver se sereno. Sereno. Serenar. Serenarei. Serenaria. Serenasse. Realmente, no fundo não sei se quero.

Ontem chegámos à nossa zona de perigo. A partir daqui podemos definir-nos melhor. Depois da pergunta da Teresa eu pensei:

O sítio onde eu estou: Representar, significar, fazer pose, ser engraçadinha e saltitante; resignar-me a uma ideia de beleza inalcansável. Desistir facilmente porque acredito no irrepresentável. O Lyotard tem, na tradução inglesa d' "A Condição Pós-Moderna", a palavra "umpresentable". Eu gosto muito desta palavra. Não sei se existe em português, mas significa algo como "o que não se pode tornar presente". Então eu desconfio que no fundo eu penso que a "verdadeira" beleza é impossível e por isso baixo facilmente os braços antes de tentar "presentificar". Estou sempre longe, portanto.

O sítio para onde eu quero ir: Quero primeiro esforçar-me para tentar tornar essa beleza presente. Quero também estar mais centrada no meu próprio eixo, sem perder a minha conexão fácil aos outros. Quero esquecer-me a 80% da existência da audiência e recuperar um pouco da minha 4ª parede e do meu umbigo :). Em relação à ideia do "outro", quero ficar apenas com o indispensável e não com a totalidade. Não quero perder-me tão completamente na tua existência, porque não quero perder-me tão completamente. Em vez de "representar", eu quero cada vez mais "estar". Quero estar presente e não ser "unpresentable". Não quero viver mais por "lá". Antes quero viver "aqui". (Na verdade viver por lá não é bem viver. É mais uma estado de zombie).

Antes de entrar na sessão jurei ir por aqui, mas depois não fiz nada disto e repeti todos os meus vícos...

Em inglês diz-se "fall from grace". Gosto muito da ideia de "graça". Também gosto da ideia de "queda". Ambas são de uma utilidade extrema. O segredo de estarmos em estado de graça é, tanto quanto sei, estarmos agradecidos (Não me importava nada de um comentário teosófico sobre isto). O segredo de cair é abrir os braços e deixar que a corrente nos leve a uma praia nova (mas, como sabem, confiar na corrente às vezes é difícil).

Continuo a não querer esforçar-me demasiado, prefiro estar grata pelas minhas perguntas e pelo caminho percorrido. Vou continuar a dar todo o conforto ao meu corpo (Ele bem merece por andar com os meus tigres lá dentro). Além de escutar, quero baixar os meus níveis de ansiedade. Acho que se eu fizer isto, o resto é consequência do meu sincero desejo. (Também gosto desta palavra "desejo". Ultimamente tenho aprendido a lidar melhor com ela.)

Sobretudo eu quero trazer a beleza para aqui. Estou farta da beleza que fica para ali e que eu vejo, mas nunca me chega às mãos. Agora estou aqui. Aqui. Aqui. A ver se ela vem, a ver se a cativo (mais uma palavra bonita). Se o meu coração me foge para onde encontra a beleza, será que a beleza foge para o meu coração (se nele encontrar um terreno propício)? Serenar.

Só mais isto: "Nem tudo o que é bonito é belo." (Paulo)

2 comentários:

  1. Grande parte do trabalho que realizo tem a ver com a aceitação. É um trabalho dificil cujos resultados ainda oscilam com o vento dos humores mas, acredito que com a pratica as coisas poderão ser diferentes pois só atraves da pratica se podem implementar mudanças. Neste sentido procuro aceitar o lugar onde estou e nos dias bons dedico me a pensar nos lugares onde quero ir e desenho esses planos.

    E estou á procura e a experimentar. Gostava de o fazer cada vez com menor esforço e com maior fluencia.

    procuro mas aspiro por passar a dizer
    encontro

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