Como quem diz: A paixão faz a beleza. O que é que quer dizer isso? Pois, o belo sempre é o que nós achamos belo. Parece simples, mas não é. Porque isso significa que tudo pode ser belo. Ou nada. Porque depende do nosso ponto de vista, da nossa perspectiva, até da nossa forma diária: quando estou mal-disposta se calhar nada me pareça belo este dia. Ao contrário, quando estou bem-disposta, quando faz sol, quando estou apaixonada, às vezes tudo parece-me belo!
O que é que é a beleza então? Não há coisas que todos achamos belo; um bebé, uma flor, um quadro de Monet? Talvez seja assim. Mas isso não é a beleza da qual estamos a falar aqui. A beleza ou o belo do que estamos à procura aqui é o belo que pode estar em tudo, que depende de nós como indivíduos e não duma convenção sobre o que é belo. Se fosse assim trabalhávamos sobre modelos.
O que nos interessa é a beleza que, como quem diz, vem “de dentro”. Esta beleza é a individual, a que vemos nas coisas e situações que gostamos cada um e na pessoa que amamos. E esta beleza é, por muito anti-convencional que seja, ou talvez especialmente por isso mesmo, a mais bela. E por isso a procura desta beleza, o trabalho sobre ela e sobretudo a presentação dela em frente de outras pessoas é uma coisa muito individual, na que mostramos algo de nós próprios.
Será que seja isso que é central na arte? Trabalhar com e sobre coisas que nos afectam pessoalmente e não somente sobre o que achamos interessante mas que não tem a ver connosco? Ou será o contrário, que existe uma vista ou um trabalho artístico pessoal de mais, com que fazemos de exibicionista? Há pouco tempo saí com um amigo para ver uma mostra performativa do trabalho artístico de um artista português no que ele mostrava o seu trabalho dos últimos anos. Foi um trabalho muito pessoal numa mostra muito intimista, e o artista até esteve para falar com o público sobre as coisas que tínhamos visto. O meu amigo ficou não mesmo incomodado, mas achou esta forma de mostrar um trabalho tão individual num ambiente assim um certo exibicionismo. Sentiu-se estranhado por ter entrado num espaço tão íntimo duma pessoa que não conhecia. E eu fiquei a pensar: Mesmo se o facto de mostrar a minha esfera íntima ou coisas muito pessoais na minha arte não seja um problema para mim, às vezes pode ser para o público! Mas se calhar, continuei pensar, isso seja por ser confrontado com perguntas que me afectam a eles também, com coisas nas quais não queriam pensar, porque têm a ver com eles e com os seus problemas e as suas angústias também.
Não cheguei a conclusão nenhuma. Mas acho que quando trabalhamos sobre um tema tão pessoal como a beleza devemos estar conscientes e atentos ao que estamos a fazer – que mostramos muito de nós tal como que isso afecta o público numa maneira muito especial. E talvez ainda mostramos mais quando o instrumento de procura é o nosso próprio corpo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Que artista é esse, Charlotte?
ResponderEliminarChama-se João MM Costa
ResponderEliminar