Projecto B para PTP:
Às vezes penso no trabalho como uma espécie de entidade sempre presente que se vai transformando e evoluindo comigo e com aquilo que vivo.
Creio que há uma característica que atravessa grande parte do trabalho coreográfico que desenvolvi que se prende com uma curiosidade sobre o outro associada a um desejo de aproximação.
Esta curiosidade não tem nada de alcoviteiro, ela nasceu do desejo de querer saber mais sobre quem era o outro que se “escondia” no escuro da plateia, quais eram as suas motivações e expectativas ao virem ver o meu trabalho.
O outro passou então de testemunha a elemento de trabalho e gradualmente fui estreitando esta relação. A primeira coisa que fiz foi retirá-lo do escuro, a segunda provavelmente foi começar a endereçar-lhe as coisas directamente.
Consigo perceber que associado ao desejo de conhecimento do outro existe também o desejo de auto conhecimento e entendimento da natureza humana.
Entre 2007/08 vivi e estudei na Índia dança, yoga e artes marciais. A Índia atirou me para um rodopio dos sentidos com os seus cheiros, sabores, cores, paisagens e sons. A arquitectura dos templos, a geometria da dança, os ritmos da música. A relação do humano com o divino. A expressão de cada rosto. Fui muitas vezes arrebatada pelo contacto com a Beleza, presente em diversas coisas, pessoas e situações.
E esta relação e interesse pela Beleza começou a tornar-se cada vez mais notória (evidente) e regressou comigo a Portugal e tornou-se a temática do meu actual Projecto.
Em Janeiro do presente ano criei um exercício coreográfico para 11 alunos da EPD do BT. Foi aqui que entendi que era no acto de procurar a beleza, no que gerava esta intenção que residia o interesse e a potencialidade.
O coreógrafo Joclécio Azevedo escreveu-me o seguinte depois da apresentação pública que realizamos: “Estar à procura de algo que mal se sabe definir, mas cuja presença é pressentida e denunciada, foi o que me comoveu no teu projecto, sobretudo pelo facto de ser uma procura conjunta e partilhada entre performers e espectadores.”
Apelidei este projecto de Projecto B.
Entre Março e Abril conduzi um Atelier de Pesquisa Coreográfica – Projecto B no NEC á volta da ideia de procura da beleza. A primeira fase orientada por mim funciona como um input de modo a que na segunda fase o participante crie o seu Projecto B ou seja o seu projecto de procura de beleza. Para isso ele deve ser capaz de identificar o território da sua procura, criar a metodologia adequada, realizar o percurso, documentá-lo e encontrar uma forma de apresentação daquilo que descobriu.
Foi muito interessante acompanhar estes processos que me fizeram perceber que o outro e o projecto do outro fazem parte da beleza que procuro.
Entretanto o Projecto B estabeleceu-se como conceito e deseja experimentar-se sobre várias vertentes: a criação coreográfica, a investigação, a documentação e a sensibilização para a temática.
E como este é actualmente o território onde me movo, decidi criar um Projecto B para o Pointe to Point.
A primeira questão que surgiu foi: como relacionar a procura da beleza com o PTP a quase dois meses deste ter lugar, quando não sei nada sobre o que irá ser o evento ou os seus intervenientes? Depois pensando melhor achei que se calhar poderia ser por aí “e se a beleza estivesse nesse espaço potencial que poderia ser preenchido pelo meu imaginário?”.
Esta era um momento particular em que ainda era possível o exercício de imaginar tudo: o evento, os participantes, o que poderia acontecer.
Este foi o ponto de partida o meu Projecto b para o Pointe to Point.
Passo um – território da procura identificado.
Passo dois – qual a metodologia a seguir?
Nesta altura frequentei o Atelier de Composição “Entre um e outro” dirigido pelo coreógrafo Joclécio Azevedo, o trabalho desenvolveu-se á volta da ideia do espaço que separa um corpo do outro, do entendimento das suas características e possibilidades. Resolvi inserir este contexto como parte da metodologia para desenvolver o meu Projecto B.
Actualização das minhas perguntas B:
- E se a beleza estiver neste espaço potencial?
- E se o meu corpo encontrar beleza ao habitar este espaço e ao relacionar-se com ele?
- E se o meu corpo encontrar beleza nas transformações provocadas pelo habitar deste espaço?
Metodologia B:
1 – Desenvolver o Projecto B para o PTP aplicando alguns dos parâmetros sugeridos no Atelier “Entre um e outro”, nomeadamente organizar todo os elementos do Projecto a partir da definição do espaço.
2 – Materialização da ideia – apresentar individualmente a ideia subjacente ao Projecto B para o Pointe to Point a 7 pessoas ligadas ás artes ou não.
- Convidá-las via telefone ou email explicado-lhes previamente o contexto e conteúdo do presente Projecto.
- Agendar um encontro numa data e local a definir pela pessoa, este lugar pode ser um espaço público ou privado, ao ar livre ou interior.
- Encontro com a pessoa no local e horário agendado. Pedir a esta que durante dez minutos observe o que acontece no meu corpo.
Linha da acção da Teresa:
A – Activação do espaço da imaginação relacionando-o com o futuro Pointe to Point durante sete minutos.
B – Deixar o corpo físico relacionar-se com esse espaço.
C – O que acontece no corpo físico como resultado do contacto com esse espaço?
3 – Documentação e apresentação
- Fazer um registo aúdio da observação da pessoa.
- Publicar no blogue do Projecto B as respectivas experiências assim como de todo o Projecto B para o Pointe to Point.
- Criação de um vídeo que possa servir de suporte de apresentação deste projecto B.
- Apresentação in locco das conclusões.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
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