quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ne change rien

de Pedro Costa


Este documentário é cheio de doçura, é como uma carícia nos dias que correm.
As coisas emergem no silêncio da imagem e tornam-se visíveis pelo que elas são.
Há poesia na ordem das coisas e das cenas. Há poesia na montagem.
Há um tempo que sucede outro tempo sem artifícios, que só aborrece quem não o entende porque nunca o viveu.
Há o prazer apaixonado com que se vivem os papéis e com que se realiza as tarefas, com naturalidade, como quem respira e é.
A luz brinca na cena como se estivesse encantada, transformando sem tentar enganar, é a magia mesmo à frente dos meus olhos e se eu me deixei assim encantar foi por não haver outra coisa a fazer.
Deliciosamente sereno, sem pressa. Subtil, envolvente.
No momento, visionário.
Teresa P.

"...Gosto muito particularmente da ideia de acorde. Encontrar o acorde, os acordes, acordar-se nesse antigo sentido de oferecer-se, acordar-se aos outros, e acordar as coisas a nós. (...)
Na música há o uníssono, a harmonia, e, se possível a síncope (outra forma de acorde, de trégua), parece-me que nela podemos caminhar verdadeiramente lado a lado, de mãos dadas. Nela encontro uma forma de liberdade que, embora nunca deixando de ser um combate, jamais passa pelo confronto. E nela procuro, incessantemente, um abandono. Fazer música para mim, contém sempre uma maravilhosa promessa de abandono. Talvez como a criança que levada pelo amor, por um olhar, por uma atenção (o ritmo, a melodia, a harmonia)abandona os braços da mãe para caminhar sozinha no vasto mundo, com o espírito livre e o corpo liberto. (...)"
Jeanne Balibar

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