sábado, 13 de agosto de 2011

Sobre entre

Entre

O caminho faz-se nos entres. Num entre um espaço conhecido e a novidade por desvendar, o que nos surpreende e nos leva a uma nova realidade ou perspectiva.

Tudo começa em trajectórias anteriormente vistas, reconhecidas, uma simplicidade quiçá não surpreendente. Mas a corda vai-se desenrolando e abre um novo espaço. O da relação. Após um estranhamento inicial, a curiosidade, o conhecer-se, surge a confiança da relação. O encostar-se no ombro do outro. O sorriso não forçado. Estranheza? Autenticidade. E é isso que nos vai prendendo.

O apoio. O abandono no outro. A abertura. O estou aqui. A confiança que permite a partilha, o revelar verdades subterrâneas, o descarregar fardos ou sombras, a intimidade que permite a passagem e a transformação.

E o bom que é tudo não acabar aí. Em tempos de transmutação e sucumbires de mudanças e nascimentos que se querem fazer, muitas vezes o trabalho consiste em apoiar as contracções e o abandono do velho. O que por si já é imenso. Mas o que dizer quando se chega ao puro, à essência, ao novo, à beleza? Como vivê-la? Quem é ela e o que ela diz?

Dos entres surge a surpresa. A revelação não acaba onde tudo normalmente acaba. Há a entrega total de olhos fechados, do mundo introspectivo revelado de dentro para fora, o que nos faz mergulhar noutros mundos. No Presente. Na Presença. E é então que se cria algo de novo.

Algo novo que é partilhado. Que cresce. Nas presenças que o são e o vivem e o mostram nuns olhos acesos e numas mãos que oferecem.

O entre da dança e dos corpos torna-se um espaço experiencial, uma oferenda de ser, um ritual de imersão na possibilidade de vida.

Maria João Soares