terça-feira, 21 de abril de 2009

Filipe Gomes - Apresentação do Projecto a 15.04.08

Coloquei uma cadeira frente ao público, sentei-me, apresentei-me e li:

Apresentação do Projecto B de Filipe Gomes

O meu trabalho iniciou-se à volta de questões da relação do Eu com o Exterior:
1-Como posso percepcionar de forma menos deturpada o Exterior, e a Mim mesmo?
2-Como me posso sentir menos desconfortável na relação com o que me é estranho?

Adoptar para a minha pesquisa o conceito de Aceitação tornou o trabalho mais claro. Este constitui-se, assim, na Aceitação de Mim mesmo e do Exterior. Dou atenção às minhas perspectivas e trabalho-as de forma a sentir-me mais confortável nestas relações e a perceber as suas potencialidades.

Após uma pesquisa mais derivativa, sinto necessidade de um trabalho orientado por uma metodologia, facilitando a construção das conclusões e da exposição das mesmas.

Decidi construir um modelo de entrevista para aplicar a um espaço e pessoas determinados, segundo critérios que irei traçar. Este modelo vai ser construído a partir de uma primeira série de entrevistas.

Passo a explicar o primeiro formato que desenvolvi, e que estou correntemente a aplicar.
Leio ao meu entrevistado um texto contextualizador do meu trabalho muito semelhante a este que acabo de vos ler.
Peço ao meu entrevistado que escolha um lugar para a entrevista.
Pergunto-lhe qual a sua ligação a esse lugar, que percurso fez para aí chegar, para escolher estar aí. Indico ao entrevistado que deverá interpretar esta pergunta da forma mais abrangente, explicando-me toda a rede de acontecimentos que, a seu ver, justificaram a escolha do lugar e a sua presença no espaço em que iniciámos o contacto. Procuro não orientar esta resposta, atribuo ao meu entrevistado a sua organização e os caminhos a abrir.

Chegados ao fim da entrevista, peço ao meu entrevistado para lhe tirar uma fotografia. A fotografia constitui o único registo da entrevista, pois esta não é gravada e não tiro notas durante a mesma.
A opção de não gravar nem anotar a entrevista prende-se com o objectivo de não desvalorizar a relação criada, ao torná-la irreproduzível para além da memória dos seus intervenientes.
A fotografia explica-se por, desde o início deste trabalho, ela me ter surgido como meio de apreensão do Outro e do Espaço, complementar à entrevista. Vejo, aqui, uma questão de apropriação da imagem.

Por fim, peço ao meu entrevistado que me dê um contacto seu, para que eu o vá informando sobre o decorrer do meu trabalho. Indico-lhe, também, que pode consultar o blogue http://prima-projectob.blogspot.com para conhecer melhor o atelier que originou o meu projecto, e também como outra forma de acompanhar este trabalho.

Primeiras conclusões a partir das entrevistas já realizadas:
1-A resposta é aberta e totalmente dependente do entrevistado.
2-Também as condições da entrevista são em grande parte determinadas pelo entrevistado, que escolhe o espaço, o qual pode por exemplo ser ruidoso.
3-Quanto mais estranhos ao projecto e a este contexto de trabalho são os entrevistados, maior pormenorização de contexto é necessária, dado que a relação está muito dependente da informação que dou sobre o projecto.

Agradeço a Teresa Prima, Ana Celeste Ferreira, António Lago, Carla Valquaresma, Charlotte, Flávio Rodrigues, Isabel Costa, Joana Castro, Micaela Maia, Paulo Duarte e Teresa Santos, Cristiana Rocha, Joclécio Azevedo, Mafalda Couto Soares, Magda Henriques, Maria Lemos, Rogério Nuno Costa, Susana Chiocca e Tó Maia. Havia mais a quem agradecer.

Peço-vos, agora, que comentem esta apresentação. [Peço que comentem esta apresentação no final das apresentações.]

Obrigado.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A minha amiga Patricia Bateira escreveu:

A beleza encontra-nos.
A beleza encontra-se.
Em todo e qualquer lado.
Porque se depara em nós próprios enquanto espiritualidade, essa dimensão humana constituída pela sua mais profunda essência e aspiração.

sábado, 18 de abril de 2009

A minha conferência, Flávio Rodrigues

Eu não gosto de falar em público, ou melhor, eu fico muito nervoso quando isso tem de acontecer, no inicio é assustador, depois… vou conquistando o à-vontade. Para este trabalho realizado no âmbito do ateliê projecto b orientado por Teresa prima, eu desafiei-me a uma conferência…talvez encontra-se no desafio a beleza.

Era no encontro com a beleza e principalmente na procura da mesma, que se desprendiam as sessões. Nas primeiras, viajávamos no território protegido pela Teresa em que o não julgamento e aceitação do momento nos levavam a questionar a presença da tal procura. Nas últimas sessões os colaboradores dedicavam-se á criação do próprio projecto b.

Eu debrucei-me sobre a ideia do tempo… na primeira fase experimentei um cruzamento temporal, que consistia em sobrepor a um registo do meu corpo (formato memoria) o meu corpo em performance (presente), e foi neste cruzamento que questionei o primeiro encontro com a beleza; ela realmente surgia…mas tão curta que não a conseguia saborear, eu estava a procura de algo maior, algo que desse tempo para eu guardar, estudar e perceber. Na segunda fase trabalhei/experimentei o registo da sobreposição e criei… um problema, alias vários.

Terminei esta fase com: Beleza = problema. Queria resolve-lo mas não estava a conseguir, prestes a abandonar, encontrei a solução ao ver o filme “Proposta indecente” em que a personagem principal David (arquitecto e professor) diz: “até um tijolo quer ser algo”.
Percebi então… que posso encontrar a beleza no processo de construção, no tempo que ela demora, no tempo que ela se mantém, e no tempo que ela cria entre si. Estou a falar por exemplo da construção de uma casa.

Bem… a minha conferência baseou-se em contar este meu pequeno processo de pesquisa… juntei-lhe o desafio colocado a mim próprio… os nervos a flor da pele… o nunca com m, o filme que estava traduzido em Italiano e afirmei estar em Espanhol… enfim… Uma bela conferencia que dava uma Proposta indecente… Flávio Rodrigues

sexta-feira, 17 de abril de 2009

"Fluid" ou a emoção dos que buscam...





(Escrevo ao som da banda sonora do “Baraka”…)

Apesar de não escrever por aqui como gostaria, estes tempos de Projecto B foram para mim também de maturação… Por vezes, neste encontro com outras pessoas, outras realidades, outras vivências, vou alargando os meus horizontes sobre o que nos rodeia. Afinal, a Beleza não é efémera, está ao nosso alcance. Apenas preciso serenar o coração, o corpo, a vida, e deixar que Ela vá sussurrando um pouco de si, para depois deixar-se explodir à minha frente e encontrar a transcendência…

Não quero ser longo no que aqui escrevo e deixo como memorial de sessões em que partilhámos muito de nós através de silêncios, gargalhadas, movimentos, escutas, interrogações, fusões, conversas, vontades de conhecimentos a aprofundar, percepções, encontros…. e muito mais… com a Beleza…

Fiquei a conhecer mais um pouco do meu corpo e da relação que se pode estabelecer com o fluir da dança, ou dos movimentos, na busca da Beleza. Afinal, como religioso, também experimento diariamente esta vontade de caminhar em direcção à Beleza. Dou-lhe outro nome: Deus! Por vezes há um medo terrível de O buscar, como se fosse bicho papão e depois, o que acontece é que se vive com Ele de outra forma, com outro nome. Porque digo isto? Foram alguns, para não dizer bastantes, os momentos em que me emocionei… Que senti mesmo que O contemplei. Estivesse em “cena” na busca de vários “ses”, estivesse a contemplar a busca dos outros, de cada um de vocês. Lembram-se quando falei da passagem da Transfiguração? Não é fácil explicar… Quando releio o que escrevi ao longo das sessões, recordo os momentos em que houve ali, naqueles momentos, o clique da explosão de onde emergiu a beleza.

Creio que conseguimos alcançar muita densidade. Com pena minha, por ter de voltar, não consegui ficar para os comentários finais depois das nossas apresentações. Do conjunto o que me ressaltou foi a certeza de que revelámos um pouco do que somos. Senti e percebi mesmo isso, enquanto vos via e me sentia, que demos aos outros o que significou o “Projecto B” no seu todo nas suas várias sessões.

Em mim, com as minhas filosofices e teologices, levantaram-se imensas questões. Naturalmente vivo a questão da relação com o Outro – a Teresa e eu sintonizámos muito bem -, além disso, surgiu a questão do tempo – passado, presente e futuro -, do espaço, da ironia, do humor, dos (des)encontros, da brincadeira, da (M)mulher, da transcendência, atrevo-me mesmo a dizer, da forma como nós, humanos, Vivemos. E tudo nesta busca do Belo, através do Corpo que somos.

Digo ainda que, aqui e agora, pode ser a porta para saborearmos o que ainda está a ser vivenciado por cada um de nós. Naquela penumbra, à luz dos aquecedores, senti a sintonia, como já referi, da relação através de sonhos que se podem realizar… no segredo de uma dança, apresentação, performance. Se me disserem que não existe “fantasia” não acredito… Ela está aí, basta “limpar” o Corpo dos ruídos, serenar e deixá-lo falar… Ele dirá muito de si e da Beleza que existe… que É!

De facto, como a Micaela várias vezes me disse, sou um [futuro] padre muito estranho...

Agradeço-vos. Muito! E até breve…

P.S. - Deixo o link para o meu artigo Ser Humano: Ser Corpo em Relação que foi publicado na revista (basta clicar) "Informativo FdeS - Ferraz de Souza"
O Site base: www.ferrazdesouza.com



Ainda (e sempre) a Beleza... :)

Enquanto me colocava no papel de espectadora dos vossos Projectos B e via a vossa procura da Beleza, observava onde é que eu encontrava a Beleza (ainda que sabendo que o nosso foco não era tanto em encontrar a Beleza mas sim na procura).
Estas palavras são só parte da minha percepção, e têm o valor que têm e não mais...

Francisca, encontrei Beleza em tudo e em cada momento, do início ao fim do teu Projecto B. O teu exercício de busca da Beleza resultou num exercício fantástico para mim de encontro com a Beleza. Obrigada :)

Paulo, do nosso Projecto não posso falar como observadora, claro. Como te comentei, antes da performance, neste dia estava-me a ser mais difícil entrar no aqui e agora. Parte de mim não se conseguia abstrair do facto de ser isso mesmo, uma performance assistida. E foi essa parte que limitou a minha entrega a momentos tão espontâneos, quanto divertidos, transcendentes e cúmplices, onde chegávamos a encontrar, de facto, Beleza. Tenho mais um ponto que gostaria de acrescentar à lista de descobertas. Durante a performance, houve um factor que me ajudava a transportar para o aqui e agora e para esses momentos mágicos que criávamos: quando me cruzava com um sorriso de alguém do público. No fundo, continua a ser a presença do outro, mas nesta situação ainda não tínhamos experimentado. Nunca sabemos de que forma estamos a influenciar os outros a cada momento, mas se for com um sorriso, será certamente de uma forma positiva... :)

Filipe, confesso que me distraí um pouco do teu discurso porque estava ainda emergida no que se tinha passado na performance com o Paulo. Assim, onde encontrei Beleza foi na abertura que senti em ti enquanto fazias o discurso. Continua, tens muito para dar! :)

António, encontrei Beleza nos desvios que te foram acontecendo e nas resoluções que ias encontrando. Como daquela vez que nos apresentavas o mini Projecto B da procura dos objectos e bateram à porta. Foi lindo! :) Gostava de ter ter ouvido falar sobre o teu Projecto B...

Flávio, achei a tua apresentação linda. Não estou segura de ter alcançado e compreendido a fundo todas as tuas ideias, mas encontrei Beleza sobretudo na fragilidade que assumiste desde início... Pode parecer estranho, já que raramente alguém se desafia a expor-se assim. Tu assumiste-a e aceitaste-a... Espero que sigamos a encontrar-nos nas danças! :)

Micaela, desde o início que encontrei Beleza seja no que quer que fizesses... É antes como o fazes. Acrescento ainda, é antes quem tu és... Linda :)


Foi um percurso realmente bonito, grata a todos!
E para ti Teresa, muita energia para continuares a levar momentos tão bonitos como os que partilhamos neste atelier, a outras pessoas. :)

P.S.: Para que dia ficou o jantar?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Querida beleza,

jamais tentarei agarrar-te de novo.

notinha

Muitos beijos e gratidão aos meus performers da beleza, ao observadores do Projecto B: Maria Lemos, Rogério Nuno Costa e Joclécio Azevedo, aos "belos" que nos acompanham através do blog, ao NEC (obrigado Mafalda) e ao público que ontem veio ver a apresentação dos Projectos B dos participantes.

Teresa

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Partilho o esboço do 'Meu projecto B

Este é um video que fiz numa das improvisações durante o processo de construção do 'Meu Projecto B'.

http://uminutu.blogspot.com/

terça-feira, 14 de abril de 2009

Comentem por favor!

Projecto B - esboço de entrevista

(1.ª parte - contextualização)

O meu trabalho iniciou-se à volta de questões da relação do Eu com o Exterior:
- como posso percepcionar de forma menos deturpada o Exterior e a Mim mesmo?
- como me posso sentir menos desconfortável na relação com o que me é estranho?

A adopção do conceito de Aceitação como cerna da minha pesquisa tornou mais claro o trabalho. Este constitui-se, assim, na Aceitação de Mim mesmo e do Exterior. Dou atenção às minhas perspectivas e trabalho-as de forma a sentir-me mais confortável nestas relações e a perceber as suas potencialidades.

Após uma pesquisa mais derivativa, sinto necessidade de um trabalho orientado por uma metodologia, facilitando a construção das conclusões e a exposição das mesmas.

Decidi construir um modelo de entrevista para aplicar a um espaço e pessoas determinados.

Esta entrevista vai ajudar-me a construir esse modelo.

Desde já agradeço-te por colaborares no meu projecto.

(2.ª parte - entrevista)

Escolhe um lugar para esta entrevista.

Qual a tua ligação a este lugar? Que percurso fizeste para chegares aqui, para escolheres estar aqui?

(3.ª parte - criação de anexos)

Chegados ao fim da entrevista, peço para tirar-te uma foto (e se quiseres explico-te como é que a foto se encaixa no projecto), e que me dês um contacto teu para que eu te vá informando sobre o decorrer do meu trabalho.

Podes consultar o blogue http://prima-projectob.blogspot.com para conheces melhor o atelier que originou o meu projecto, e também como outra forma de acompanhares este trabalho.


Obrigado.

O meu projeto B (enorme, vão buscar pipocas...)

Depois de muitas interrogações sobre os exercícios “deambulatórios” sobre a beleza que fomos fazendo ao longo do workshop – interrogações do género “E agora quê? Para quê que isto serve?” – optei por meter a mão na massa num projeto já existente, mas que estava a precisar de uma espécie de lifting.

Um projecto subnutrido, carenciado e ideal portanto para responder à minha pergunta inicial – Vamos lá então a ver para quê que isto serve? Às vezes, para brincar, eu digo que sou uma cientista e fico logo toda contente! a verdade é que prefiro exercícios de funcionalidade a exercícios de abstração e então, resolvi ceder ao meu lado analista, neste tempo de “se não podes convencê-los, confunde-os”.

Eu estava descontente com as instalações de video da série “Ela só queria ser arrebatada” por duas razões:

1. Todos os pequenos quadros de video sobre o feminino que fui fazendo nos últimos anos eram bastante desconexos entre si do ponto de vista da sua linha estética, embora partilhassem a mesma linha poética – a minha ideia de feminino, que resultava afinal numa série de lugares comuns e abra-se aqui um parentesis para explicar melhor: “comuns”, claro, à nossa comum ideia de feminino. Digamos que eles me pareciam “um para cada lado” e gostava por isso de lhes acrescentar unidade.

2. A segunda razão prende-se com um certo toque de drama ou, conforme disse a Prima, de “história”, que gostaria de limpar do meu trabalho, pelo menos para já. Estou cada vez mais interessada na simplicidade e não quero arabescos, chinoiseries de espécie nenhuma. Não é nada de novo, tenho visto muito disto, mas é novo para mim e sobretudo, gosto. Gosto de ver aquele “cru”, subtil e delicado como um sushi.

O método:

Decidi trabalhar a questão da “unidade” apenas pôr colocar os quadros em sequência e repeti-los até que, naturalmente começassem a ganhar semelhanças formais entre si.

Quanto a questão da “simplicidade” adviria do “se” – “mágico”, à boa maneira stanislavskiana conforme já disse à Teresa (É que a tradição também tem as suas coisas) – dizia eu que a simplicidade adviria do “se” que escolhi, que foi o seguinte

“E se… a beleza fosse simples.”

E pronto. Conforme fomos fazendo a longo do workshop, é só concentrarmo-nos no nosso “se” e deixar o corpo enunciar a resposta, não podendo haver método mais simples.

Percebi então que teria de ter a estrutura muito bem montada para depois repeti-la inúmeras vezes, até que, à semelhança dos exercícios de “ses”, a beleza se revelasse por disponibilidade e aceitação. Mas deparo-me imediatamente com um problema: a estrutura não está nada bem montada. Lanço-me então à tarefa de:

1. Rever todos os videos, destacando aquilo que de acção e set é fundamental em cada um, de forma a ser transposto para a cena de forma “simples”.
2. Reunir todos os adereços que me estão a faltar para realizar as acções.

Fui então rever todos os videos, destacando o essencial, o que não é assim tão difícil, porque já os conheço bastante bem, mas já a procura dos objectos tem sido uma azáfama. Como podem imaginar há limites de orçamento que me fazem optar pelo charriot do Ikea em vez do da Area e isto aborrece-me, porque um é muito mais bonito e funcional do que outro e tanto “bonito” como “funcional” são conceitos que eu tenho de respeitar. Sem querer ser vulgar, é certo e sabido que às vezes o orçamento fala ainda mais alto do que a beleza – o que é com certeza uma novidade para vocês…).

Atendendo aos pormenores mundanos e desprezíveis do orçamento possível, passeio então pelas lojas onde penso encontrar os meus adereços levando o meu “se” na cabeça. E eis-me a passear nos corredores do Toys’r’Us, do Continente, do Norte Shopping com o meu “E se a beleza fosse simples?...” o que, reparo, condiciona a minha escolha de forma interessante. Por exemplo: começo a optar por objectos brancos em vez de objectos de cor, opto por metais e não por plásticos e sobretudo começa a esboçar-se essa premissa de “funcionalidade” que viria a revelar-se da máxima importância. Ao princípio chamei a isto uma “linha iconográfica fundamental”, o que quer dizer simplesmente que a qualidade das imagens e dos objetos era da máxima importância (até porque eu estava a trabalhar a minha ideia de feminino e eu não penso em “feminino” sem pensar em beleza. A beleza é um valor feminino, que me caiam em cima o quanto quiserem por dizer este possível lugar comum. Comum a quem? a nós, volto a destacar.) Mas no centro desta “coisa” iconográfica eu não podia deixar nunca a minha premissa de simplicidade, o que imediatamente me afasta do drama, barroco, do qual desde o início me quero libertar (pelo menos para já). Uma pequena excessão para o azul que foi surgindo e que eu deixo ficar como discreto elemento lúdico (um colorido!), quer dizer: que não é imediatamente funcional. Por outro lado, azul é a cor dos meninos e isto satisfaz a minha veia irónica.

Por esta altura já estou completamente envolvida num prazer mórbido à volta da ideias de“funcionalidade” e é portanto com deleite que me perco na secção de “Organização” do Ikea… Fico horas a estudar possibilidades de encaixe e estruturação: charriots, gavetas, caixas, tampas, sacos, tudo isso me seduz e estou a começar a pôr em causa a minha sanidade mediterrânea… Percebo que este pequeno êxtase se deve a ter encontrado um ponto verdadeiramente sensível da minha procura de beleza pessoal:

ORGANIZAÇÃO. ESTRUTURAÇÃO. ARRUMAÇÃO. LIMPEZA.

Depois deste episódio, revelador de identidade ou subjetividade na procura pessoal, fico muito feliz e vou para o ensaio toda contente montar o meu charriot e as prateleiras brancas, mas mal começo os parafusos do Ikea partem-se todos e eu não consigo montar, nem experimentar a minha singela e bonita estrutura. No meio da desventura, no entanto, aconteceu uma outra coisa importante.

Por entender que montar o charriot já fizesse parte do ensaio, comecei a mentalizar o meu “E se a beleza fosse simples?...” durante a fase da bricolage. “A bricolage chegou à dança contemporânea”, pensei. Foi então que nova revelação se apresentou sob a forma de uma evidência bem iluminada:

“O meu projeto B poderia ser montar o charriot!”

É que todo o meu projeto B, a minha procura de beleza, foi no sentido de estruturar uma coisa desconexa de forma funcional e simples (como as linhas do meu charriot). No sentido de encontrar uma estrutura (cénica) capaz de dar suporte a uma beleza previamente ausente, ou seja, a minha partitura “Ela só queria ser arrebatada” de uma forma organizada. Através do estudo cénico d’ “A montagem do charriot”, nada então haveria de mais simples e cru. Se o estimado leitor ainda tiver a amabilidade de continuar a lêr este relatório exaustivo do que têm sido as duas últimas semanas da minha participação no “Projeto B”, gostará então de saber a conclusão de todas estas peripécias.

O meu projeto inicial é dar beleza a um projeto (“Ela só queria ser arrebatada”) carente de determinadas caraterísticas que relaciono com a beleza: unidade e simplicidade. Este é o meu projeto inicial. “A montagem do charriot” seria um excelente Projeto B, mas afastar-me-ia da minha proposta inicial. Isto porque “A montagem do charriot” seria um projeto sobre a minha procura de beleza, mas não sobre a aplicação prática dos exercícios num projeto carente.

A partir de agora isto será um exercício lúdico de matemática, para vocês verem se eu sou ou não sou uma cientista.

Se eu estou a fazer um projeto B, mas este se soma a um projeto meu prévio, então eu tenho de fazer a seguinte operação:

A minha procura de beleza (ou A montagem do charriot) + Projecto carente (ou Ela só queria…) = X
A + B = X

Sendo A = Projeto B = necessidade de organização, estruturação, limpeza e arrumação.

E sendo B = Ela só queria ser arrebatada = Meu/ nosso lugar comum feminino.

Então, o valor de X parece-me ser:


NECESSIDADE DE
ORGANIZAÇÃO,
ESTRUTURAÇÃO,
LIMPEZA,
DO MEU/ NOSSO
LUGAR COMUM FEMININO.

Aqui sorrio, porque estou divertidíssima. É este o resultado do meu projeto B.

Ressalvo que dentro do tempo de que disponho para ensaiar a minha partitura, estou certa de que muito dificilmente conseguirei a limpeza necessária à cena, por isso tenho de aceitar o que for possível, esforçando-me naturalmente por esticar ao máximo essa fasquia do “possível”.

De qualquer forma considero o resultado muito positivo e estou grata pelo caminho percorrido com a ajuda de todos. Eu estou mesmo grata por termos trocado de meias uns com os outros.

Beijinhos.

Micaela, a Pedra

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O nosso Projecto B

A Beleza como um estado interior possível de ser alcançado a cada momento.
E se o meu corpo encontra Beleza ao estar no aqui agora?

Projecto partilhado com o Paulo.

Algumas das questões que se foram levantado ao longo do processo:
Como encontro em mim esta presença no aqui agora?
Para estar completamente no aqui agora é necessário processos de aceitação e purificação da nossa memória, da memória que guardamos do outro e dos espaços?
Como abordar a questão do tempo? Experimentar o passado e o futuro como forma de compreender o presente?
Se eu vivencio o aqui e agora plenamente e o outro também, a partir de que base nos vamos relacionar? De que forma a presença do outro influencia o meu estar no aqui agora?
De que forma o julgamento influencia o meu estar no aqui agora?
Poderei realmente encontrar Beleza a cada momento, e em qualquer situação? Qual é o mínimo necessário para que se tenha a predisposição/receptividade para buscar/encontrar a Beleza? Ou é algo inato, inerente a todos?

Escolhas:
Apesar de estarem interligadas todas estas questões, as nossas escolhas foram-nos conduzindo mais para a abordagem da pergunta: Se eu vivencio o aqui e agora plenamente e o outro também, a partir de que base nos vamos relacionar? De que forma a presença do outro influencia o meu estar no aqui agora?

Método:

Deixar fluir
1º momento:
1) O que o corpo precisa para estar no aqui agora

Desfaço tensões, entrego, limpo, aceito.
Transfiro consciência para o corpo, cada pequeno movimento, expando os sentidos, respiro com consciência
Abro o meu canal de ligação ao transcendente.
Reconheço a presença do outro, da nossa união, de um caminho lado a lado.
Apercebo-me que não ha hierarquias, nada é mais importante que nada.

2) Viagem: eu no aqui agora consciente da tua presença

Encontramos Beleza quando, de alguma forma, nos completamos, nos identificamos e ao sentirmos o conforto da presença do outro que está no mesmo processo.
Encontramos Beleza naqueles pontos no espaço suspensos no tempo consequências do nosso cruzamento.
Encontramos Beleza no jogo.
A presença do outro ajuda-me a manter-me no aqui agora.

3) Observador e observado

Sentimos liberdade ao ser e ao deixar ser. Somos humanos.
No aqui e agora não há julgamento.

2º momento:
1) 2) e 3) explorados com sequência, com menor duração, e no exterior

Houve evolução, por estarmos a trabalhar nestas questões toda a sessão anterior, foi-nos mais fácil entrar mais rápido nesse estado e passar por todas as fases em um menor período de tempo.
Registo da experiência no exterior:
A nossa viagem em busca da luz, do transcendente, das coisas simples, da Beleza.
Ofereces-me uma folha e não a quero perder, ainda preciso dela. Tentamos descobrir a fórmula mágica de criar luz. Juntos conseguimos; mas ainda não. Busquemos outras luzes que outros já acenderam.
Subimos as escadas. Eu gosto assim, sentimo-nos reis e rainhas crianças. Eu sou o vento e tu és a oração. Estamos bem no alto, pertinho da lua que cresce. Um homem que passa assusta-se, nós rimos com sua a inocência. Estamos no meio de dois nadas que contêm neles tudo.
Descemos as escadas, seguimos ao encontro da luz. Damos a nossa atenção à ausência de luz. Olhamos o horizonte e deixamos partir a folha em direcção ao infinito. Foi a brisa que a levou. E a nós. Porque a minha casa não é aqui.

Ao encontro da manifestação física da Beleza no aqui agora
3º momento:
Experiência da viagem no aqui agora sem a presença do outro

Maior dificuldade em estar no aqui e agora sem a presença do outro.
A sua presença e a sua observação sem julgamento mostram-se realmente como factores importantes para uma maior capacidade de me conectar com um estado mais sublime, um estado de Beleza.

Criação de uma partitura do aqui agora

(em fase de construção)

Meu Projecto B

FASE I

ZONA DA BELEZA A CARTOGRAFAR:
‘Eu vs Eu – Tenho Beleza em mim?’


‘Tenho Beleza em mim?
Ainda não a atingi. Mas percebo onde ela me toca. Repito a questão e a resposta é ‘sim’, mas ‘fora de mim’. Sinto o vento gelado a tocar na minha pele…dói e faz-me ter ‘pele de galinha’, mas é isso a Beleza para mim… é dessa forma que ela vem ter comigo! O frio faz-me sentir viva… o corpo reage… os órgãos reagem… sinto-me leve, livre, plena. É desta forma que a Beleza me chega! Agora não sei se EU tenho Beleza, mas sei por onde ela anda… Por aí…


QUESTÕES PARA INICIO DE PROCURA:

‘Onde está a Beleza?’
A Beleza está no mais fundo das coisas.

‘E se a Beleza não existisse?’
O meu corpo pára. Não sabe como mover-se… nem quer…
O espaço pede para ser reorganizado, até se encontrar a Beleza.


TENTAR PROCURAR EM MIM UM ESTADO DE BELEZA.

Corro lá para fora com o meu balde preto. Enfio-o na cabeça até ao peito e pergunto: ‘Tenho Beleza em mim?’. A minha voz abafada pelo balde, faz a perguntar voltar. Sorrio… Um pequeno pontinho no centro do peito acende. Sim tenho mas não está activado. Pergunto em tom alto, baixo, muito alto ou sussurrando: ‘Tenho Beleza em mim?’; O ponto vibra… Sinto que ele activa quando é algo exterior que o estimula. Ou o vento ou o eco da minha voz… porque de mim para mim não o ponto não activa. O balde aperta-me o peito, fazendo sentir-me abraçada/aconchegada. Aqui sinto que tenho disponibilidade para acolher a Beleza, mas não estou em estado de a fazer nascer.


FASE II

PASSEIO POR VILA DO CONDE EM BUSCA DA BELEZA:
Coloco as mesmas questões que na sessão anterior, mas em diferentes espaços.


‘Que influência tem o ‘espaço’ na minha procura pela Beleza dentro de mim?’


A Beleza manifesta-se em mim quando estou disponível para recebe-la.
A disponibilidade é o estado para a recepção da Beleza.


‘ESTADO DE BELEZA’ (definição por ‘Francisca’): Estado que chamo, quando estamos disponíveis/ receptivos para a Beleza.

FASE III


A PARTIR DE TODO O MATERIAL RECOLHIDO, INICIO DE ESTRUTURAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO:

- Encontro com o ‘Estado de Beleza’ para se iniciar o trabalho.

- Escuta e movimento.

- Escuta e movimento dentro do balde.
Que diferenças há?

Dentro do balde os sentidos ganham outra dimensão. Estou mais desperta, e a escuta interior é bastante maior.

Como encontrar essa mesma sensação mas fora do balde?

Deito-me e fecho os olhos, imagino-me dentro do balde. Olho para ele algumas vezes.
De olhos fechados, tento visualizar a perspectiva de dentro do balde, e transporto-a para o exterior. Os braços começam a movimentar-se, como que sensores. Toco o meu corpo, estico os braços para sentir o ar a passar pela minha pele e pelos. Esse ar faz os meus braços dançarem. Sabe bem…

- Pedir a outras pessoas que passem pela mesma experiencia que eu e comentem.

Teresa
Decide movimentar-se primeiro pois é dessa forma que se encontrará com a Beleza.
Quando decide ir ter com o balde e o enfia na cabeça, sente que dentro os sentidos tomam outra dimensão muito mais intensa. Aqui resolve entrar num jogo de ‘entra/sai’ com o balde, pois este ao mesmo tempo não era uma sensação muito agradável.


FASE IV

Analisando todo o material anterior encontro pontos em comum…

As palavras Saber, Através, Disponível, Reconhecer, Mim, e Receber.


…E outras de maior relevância.

‘A Beleza está no mais fundo das coisas’

‘Se a Beleza não existisse reorganizava o espaço, até a encontrar’

‘Quando a Beleza passa em mim, os meus braços movem-se como sensores e conduzem-na até ao peito, criando uma vibração nessa zona.’

Juntando estes pontos, que considero fortes, encontro uma estrutura coreográfica e estética, que tenha estes pontos todos presentes.

Movo-me debaixo de uma cortina porque…

Tem um simbolismo associado à conclusão, ‘A Beleza está no mais fundo das coisas’

Coloco folhas em branco dispostas como que uma ‘arvore genealógica’, porque…

Por reacção á resposta ‘Se a Beleza não existisse reorganizava o espaço, até a encontrar’; e porque para mim as palavras Saber, Através, Disponível, Reconhecer, Mim, e Receber, estão presentes nessas folhas brancas.



Movo-me só com os braços porque…

Aquando da presença da Beleza, os braços era a única parte do corpo que se movia. Absorviam e conduziam-na até ao peito, criando uma vibração nessa zona.’

Dois lados de observação porque…

A Beleza não é de fácil acesso. É preciso ultrapassar a ‘barreira’ para a encontrarmos. É preciso ir sempre ao fundo.

E se a nossa beleza incomodasse o público?

Como quem diz: A paixão faz a beleza. O que é que quer dizer isso? Pois, o belo sempre é o que nós achamos belo. Parece simples, mas não é. Porque isso significa que tudo pode ser belo. Ou nada. Porque depende do nosso ponto de vista, da nossa perspectiva, até da nossa forma diária: quando estou mal-disposta se calhar nada me pareça belo este dia. Ao contrário, quando estou bem-disposta, quando faz sol, quando estou apaixonada, às vezes tudo parece-me belo!
O que é que é a beleza então? Não há coisas que todos achamos belo; um bebé, uma flor, um quadro de Monet? Talvez seja assim. Mas isso não é a beleza da qual estamos a falar aqui. A beleza ou o belo do que estamos à procura aqui é o belo que pode estar em tudo, que depende de nós como indivíduos e não duma convenção sobre o que é belo. Se fosse assim trabalhávamos sobre modelos.

O que nos interessa é a beleza que, como quem diz, vem “de dentro”. Esta beleza é a individual, a que vemos nas coisas e situações que gostamos cada um e na pessoa que amamos. E esta beleza é, por muito anti-convencional que seja, ou talvez especialmente por isso mesmo, a mais bela. E por isso a procura desta beleza, o trabalho sobre ela e sobretudo a presentação dela em frente de outras pessoas é uma coisa muito individual, na que mostramos algo de nós próprios.
Será que seja isso que é central na arte? Trabalhar com e sobre coisas que nos afectam pessoalmente e não somente sobre o que achamos interessante mas que não tem a ver connosco? Ou será o contrário, que existe uma vista ou um trabalho artístico pessoal de mais, com que fazemos de exibicionista? Há pouco tempo saí com um amigo para ver uma mostra performativa do trabalho artístico de um artista português no que ele mostrava o seu trabalho dos últimos anos. Foi um trabalho muito pessoal numa mostra muito intimista, e o artista até esteve para falar com o público sobre as coisas que tínhamos visto. O meu amigo ficou não mesmo incomodado, mas achou esta forma de mostrar um trabalho tão individual num ambiente assim um certo exibicionismo. Sentiu-se estranhado por ter entrado num espaço tão íntimo duma pessoa que não conhecia. E eu fiquei a pensar: Mesmo se o facto de mostrar a minha esfera íntima ou coisas muito pessoais na minha arte não seja um problema para mim, às vezes pode ser para o público! Mas se calhar, continuei pensar, isso seja por ser confrontado com perguntas que me afectam a eles também, com coisas nas quais não queriam pensar, porque têm a ver com eles e com os seus problemas e as suas angústias também.
Não cheguei a conclusão nenhuma. Mas acho que quando trabalhamos sobre um tema tão pessoal como a beleza devemos estar conscientes e atentos ao que estamos a fazer – que mostramos muito de nós tal como que isso afecta o público numa maneira muito especial. E talvez ainda mostramos mais quando o instrumento de procura é o nosso próprio corpo.

terça-feira, 7 de abril de 2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Filipe Gomes - o meu projecto B

06/04

Pesquisar a Aceitação tendo por metodologia exercícios de aceitação.
A Aceitação conduzirá a descobertas, das quais se pode fazer o registo e a exposição.

08/04

1. aceitação tem a ver com trazer o mundo para dentro de ti.
2. tens sempre a hipótese de não aceitar. e isso também faz parte da aceitação.

ok, ideias toda a gente tem! evita a deriva, cria metodologia (obrigado Teresa!) - sê B :D

10/04

Metodologia:
vais fotografar locais em que te sintas desconfortável (1. aceitação tem a ver com trazer o mundo para dentro de ti)

domingo, 5 de abril de 2009

Uma delícia para a alma, perfeitamente articulada e organizada.

É só para dizer olá. Estou a organizar o meu projeto B. Dá trabalho... E isto tem sido só curtir! Lembrei-me desta notinha que está nas primeiras contribuições do blog e fui revisitá-la.
Vou segmentar as acções "inconscientes" do meu corpo e desenhar uma partitura que seja só articulada e organizada, o melhor possível. Depois vou abrir bem os olhos, mas fechar o nariz para mergulhar! para já ainda estou de tesoura e linha na mão, no corte e cose do meu projeto "Ela só queria ser arrebatada" revisitado pelo "Projecto B". Que giro ;).

Desejo a todos uma grande genica para levarem os vossos projetos bês a um porto seguro e verdejante! Força, nesta parte mais difícil da escalada! Lembrem-se, lá em cima a vista é mais bonita.

(Estou cansada! Quero ir para o campo fazer teatro para as vaquinhas, como diria um amigo. Mas vou continuar! ah não se não vou!! ou não me chamasse Micaela, a pedra! até já, pessoas bonitas.)

quinta-feira, 2 de abril de 2009